Busto de Dom Vicente Matos -- colocado por iniciativa de
seus admiradores -- na Praça da Sé. Nenhuma rua de Crato foi denominada em
homenagem ao maior benfeitor desta cidade.
O calendário das pequenas efemérides do Cariri assinala
neste 2012 – mais precisamente no dia 29 de novembro – os 70 anos da ordenação
sacerdotal de Dom Vicente de Paulo Araújo Matos, terceiro bispo de Crato.
Recém-ordenado, o jovem padre Vicente Matos recebeu a missão de ser o primeiro
administrador da recém-criada Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, da cidade de
Capistrano, à época pertencente à Arquidiocese de Fortaleza.
Em Capistrano, o padre Vicente Matos encontrou como
igreja-matriz uma capela singela e de pequenas dimensões, embora dotada de um
tradicional cruzeiro a sua frente (foto à esquerda). Naquela cidade, ele
demonstrou os primeiros sinais do espírito empreendedor de que era dotado.
Deve-se ao padre Vicente Matos a construção da nova e imponente igreja-matriz
da paróquia de Capistrano, (foto abaixo, à direita) hoje integrando a diocese
de Quixadá.
Logo, o arcebispo dom Antônio de Almeida Lustosa percebeu as
virtudes do jovem padre Vicente Matos, dentre as quais sobressaiam os dotes de
um pastor zeloso, prudente, dinâmico, firme e compreensivo. Por isso convocou-o
para dirigir o Colégio Arquidiocesano, em Fortaleza, o que ele fez com
responsabilidade e competência entre 1947 e meados de 1955.
Dom Vicente Matos (penúltimo à direita) é visto nesta foto
de 1960, sendo recebido pelo então Presidente da República, Juscelino
Kubitschek,juntamente com outros bispos brasileiros, nos primeiros dias de
Brasília como nova capital.
Em 21 de abril de 1955 foi eleito bispo. A edição do jornal
“O Povo” de Fortaleza, do dia 26 do mesmo mês, abaixo da manchete “Pio XII
nomeia sacerdote cearense”, publicava a seguinte notícia: “Mais um sacerdote
cearense acaba de ser distinguido pelo Papa Pio XII. Trata-se do virtuoso padre
Vicente de Paulo Araújo Matos, que, pela nomeação papal, recebeu o título
honorífico de bispo titular de Antioquia no Meandro. Irá coadjuvar dom
Francisco de Assis Pires na Diocese de Crato”.
Como sucessor dos Apóstolos, adotou o lema – sugerido por
dom Antônio de Almeida Lustosa –, Vicenti Dabo Manna” (Ao vencedor darei o
maná). Este lema, retirado do livro do Apocalipse, é uma alusão ao prenome do
novo bispo, “o qual, fortalecido pela Eucaristia e com as bênçãos da Virgem
Maria, vivamente deseja vencer, na terra, e chegar ao banquete celeste de que é
símbolo o maná”.
Dom Vicente Matos chegou a Crato, como bispo-auxiliar, em 15
de agosto de 1955. Em 22 de janeiro de 1961 foi nomeado terceiro bispo desta
diocese, sucedendo a Dom Francisco. Aqui permaneceu até 1º de junho de 1992,
quando renunciou à Diocese por motivo de saúde. Foram, portanto, 37 anos de
doação, sofrimentos e vitórias de um fecundo episcopado em terras do Cariri.
O que dom Vicente Matos realizou na diocese de Crato lembra
a obra de um gigante! Dentre as suas muitas realizações podemos lembrar: criou
dezoito paróquias; ordenou trinta e sete sacerdotes. Deve-se a ele a fundação
do Instituto de Ensino Superior do Cariri, mantenedor da Faculdade de Filosofia
de Crato e embrião da atual Universidade Regional do Cariri.
Foram, também, iniciativas de Dom Vicente a construção do
imponente Centro de Expansão Educacional (localizado no bairro Grangeiro) que
hoje leva seu nome; a Rádio Educadora do Cariri; a Empresa Gráfica Ltda., que
editava o jornal “A Ação”; a criação da Fundação Padre Ibiapina, instituição de
amplo alcance social que desenvolve trabalho de Evangelização, Cursos de
Treinamento e as Pastorais da Criança, da Educação e da Saúde, além de
mantenedora da atual Faculdade Católica do Cariri, criada recentemente por dom
Fernando Panico. A Dom Vicente se deve ainda a criação dos primeiros Sindicatos
dos Trabalhadores Rurais no Sul do Ceará; a criação e construção do Ginásio
Madre Ana Couto e do Colégio Pequeno Príncipe; a criação da Escola de Líderes
Rurais; da Organização Diocesana de Escolas Profissionais, dentre outras
iniciativas.
Um grande bispo!
O maior benfeitor do Crato ao longo da quase tri secular
existência desta cidade...
Texto: Armando Lopes Rafael
Nota do Editor: Louvável a iniciativa do historiador Armando Lopes Rafael de
cultuar a memória de um dos maiores empreendedores que o Cariri já conheceu,
notadamente nos campos social, educativo e religioso. Gostaria, no entanto, de
fazer um pequeno acréscimo a uma informação sua: na legenda da fotografia do busto
de Dom Vicente, consta que a aposição daquele singelo monumento, localizado no
canteiro central da Praça da Sé, em Crato, foi obra de admiradores. Não resta dúvida! A
ideia foi do jornalista e memorialista cratense Huberto Cabral e os custos foram
bancados pela Prefeitura do Crato, na gestão de Moacir Siqueira, através da
então Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente. Na época, eu era o titular daquela
pasta. Daí essa memória. A solenidade de inauguração aconteceu no
aniversário de falecimento do bispo, em junho de 2000, com celebração de missa
e presença de alguns de seus irmãos e familiares. (Carlos Rafael Dias)