O
Rebate, jornal criado em 1909 para defender a emancipação de Juazeiro
O processo de emancipação de
Juazeiro
O antagonismo entre as duas principais cidades caririenses
parece que tem uma origem mais forte no processo de emancipação política de
Juazeiro, o que levou a um renhido e tenso embate entre as elites políticas das
duas localidades. Igualmente, a posição explicitamente contrária do clero
cratense com respeito aos supostos milagres, é um antecedente que veio a
fermentar inicialmente esta rivalidade. Da mesma forma, deve-se considerar,
como um importante fator desse processo, a ascensão econômica de Juazeiro, já
no início do Século XX. Este acelerado desenvolvimento, fruto das crescentes
romarias, foi o argumento utilizado pelo movimento encetado pelas lideranças
juazeirense em favor da autonomia do então distrito do Crato. No entanto, o
motivo central do desejo emancipacionista era muito mais a exação fiscal em
benefício do Crato sobre as receitas geradas no comércio de Juazeiro.
Se já havia toda uma base fermentada para o crescimento do
confronto, faltava, pois, quem se dispusesse a “amassar a massa” e, ao mesmo
tempo, instigar as massas para a causa emancipacionista. Esse papel foi exercido
pelos editores do jornal O Rebate[1],
hebdomadário que circulou entre julho de 1909 e agosto de 1911. Segundo
Rosilene Alves de Melo, “o objetivo
principal do jornal era propagar a defesa levada a efeito pela elite política
de Juazeiro contra as acusações que partiam da imprensa do Crato, que
qualificava aquele lugar como antro de fanatismo e de banditismo[2].” Como
resultado da propaganda anticratense, a população, mobilizada, decidiu boicotar
o pagamento de impostos municipais recolhidos ao Crato.
Ainda é Rosilene Alves de Melo que nos dá a seguinte
informação: “o artigo publicado no dia 04
de abril de 1910 informa aos leitores que o coronel Antonio Luiz Alves Pequeno,
principal chefe político do Crato, estaria preparando uma ofensiva armada
contra Juazeiro; na oportunidade, os moradores do povoado são convocados para
reagir energicamente:
“Chegou a notícia de
que o Sr. Antonio Luiz está preparado para amanhã mandar uma força armada vos
espingardiar, vos matar, por que não quereis pagar impostos municipaes na
feira.
“Cada joazeirense deve
estar prevenido com suas armas de promptidão para morrer ou matar em defesa de
seus direitos. Às armas povo! Quem não é por nós é contra nós!"[3]
Além da campanha veiculada em editoriais e artigos, O Rebate
reservava um espaço, o Boletim Cariricata,
onde eram veiculados gravuras, versos e trovas ridicularizando as autoridades
do Crato. Um verso de um poesia, intitulado Antonio
Luiz Canella Preta trinchado pelo público, dizia:
“Quem diz verdade, não
mente...
O homem perdeu a fama,
Cahiu em cheio na lama
Não tem galho em que
s’aguente...
Quem provoca a muita
gente,
Quando cahe quebra o
nariz...
A força toda perdeu...
É coqueiro sem raiz
O pobre Tonho Luiz.[4]
Para encerrar esta primeira parte, abro um parêntesis para
esclarecer que não pretendo, nesta análise sobre as origens da rivalidade
Crato-Juazeiro, parecer tendencioso, como pode estar parecendo por somente citar
as fontes referentes aos métodos, às vezes questionáveis, da campanha
anticratense. Mesmo não tendo as fontes que revelem como se deu a campanha
movida contra Juazeiro pelas lideranças cratenses, creio que a tônica não foi
muito diferente.
[1] Os o
núcleo principal do periódico era formado pelo padre Joaquim Alencar Peixoto, o
escritor José Marrocos e o caudilho Floro Bartolomeu.
[2] Arcanos
do Verso; trajetórias da Tipografia São Francisco em Juazeiro do Norte
(1926-1982). Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, 2003, p.37.
[3] Idem ibidem.
[4] Idem
ibidem, p. 40.
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