sábado, 21 de abril de 2018

TIRADENTES, HERÓI DA PÁTRIA


TIRADENTES, HERÓI DA PÁTRIA
                                                                  Por Sérgio Pinto Monteiro*




Manhã de sábado, 21 de abril de 1792. Às onze horas e vinte minutos, depois de penosa caminhada, sob um sol rigoroso, pelas principais ruas do centro do Rio de Janeiro, o Alferes José Joaquim da Silva Xavier, subiu, sem medo, o patíbulo erguido no Campo da Lampadosa, atual Praça Tiradentes, onde bradou: 

                               “Cumpri a minha palavra, morro pela liberdade!” 

Como demorasse a morrer, o carrasco, um criminoso comum, montou-lhe nos ombros para abreviar o seu fim. Segundo a sentença, Tiradentes, único executado entre os Inconfidentes, seria enforcado, decapitado e esquartejado. Com o seu sangue, lavrou-se uma certidão de que a pena fora cumprida. Sua cabeça apodreceu dentro de uma gaiola em Vila Rica. Os quatro “quartos”, conservados em salmoura, foram colocados em postes, ao longo do Caminho Novo, na Capitania de Minas Gerais, onde o Alferes fazia as “infames prédicas” pela liberdade de nossa pátria. Seus bens foram confiscados, as casas em que morara, arrasadas e salgadas, para que nunca mais, naquele chão, algo germinasse.



Joaquim José da Silva Xavier nasceu em 1746 na Fazenda do Pombal, localizada entre a Vila de São José, hoje cidade de Tiradentes e São João Del Rei. Era filho do português Domingos da Silva Santos e da brasileira Maria Antonia da Encarnação Xavier. Quarto filho entre sete irmãos, perdeu a mãe aos nove anos e o pai, aos onze. Sua família, com muitas dívidas, ficou sem a pequena propriedade onde vivia. Joaquim, menor de idade, acabou sob a tutela de um padrinho, cirurgião, residente na cidade de Vila Rica, hoje Ouro Preto. Trabalhou como mascate e minerador. Foi sócio de uma botica de assistência à pobreza na Ponte do Rosário, em Vila Rica, e se dedicou, também, às atividades farmacêuticas e ao exercício da profissão de dentista, o que lhe valeu o apelido de Tiradentes. Na carreira militar tinha o posto de Alferes, correspondente hoje ao de segundo-tenente e serviu no Regimento de Cavalaria Paga (os Dragões) da Capitania das Minas Gerais. Solteiro, teve uma filha com uma viúva de nome Joaquina. Considerado líder da Inconfidência Mineira, Tiradentes foi preso na Rua dos Latoeiros, hoje Gonçalves Dias, no Rio de Janeiro, quando divulgava os ideais revolucionários de tornar o Brasil uma nação independente.

Hoje o sacrifício do Alferes José Joaquim da Silva Xavier - Tiradentes - completa 226 anos. Pela Lei nº 4.897, de 9 de dezembro de 1965, foi ele proclamado “Patrono Cívico da Nação Brasileira”.
  Visitamos a cela onde Tiradentes ficou confinado, situada dentro das instalações do atual Hospital Central da Marinha, na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, até ser transferido para a Cadeia Pública da cidade, conhecida como Cadeia Velha, demolida em 1922 (próximo do atual prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), de onde Tiradentes foi conduzido a pé para ser executado, por enforcamento, na praça que hoje leva o seu nome, na época Campo da Lampadosa. 
A Marinha do Brasil tem sob a sua guarda um dos nossos mais importantes sítios históricos. Foi emocionante adentrar aquela masmorra, escura, fria e úmida, sabendo que há mais de dois séculos o nosso herói maior ali padeceu pela liberdade do Brasil. Respiramos por alguns minutos o ar malcheiroso proveniente da umidade que emanava das paredes de pedra. Foi-nos impossível conter as lágrimas, face ao clima e à emoção que emanam daquele local.
Num passado não muito distante, a data era comemorada em todos os níveis do poder público e objeto de amplo noticiário da imprensa. Nos dias atuais, um sinistro e lamentável silêncio se abate sobre a saga do mártir da independência e o sonho de liberdade dos Inconfidentes. Há um claro propósito de um punhado de maus brasileiros de ignorar ou, até mesmo, reescrever, ao arrepio da verdade, alguns dos mais importantes episódios do país. Tradicionais heróis nacionais estão sendo “substituídos” por personagens de nenhuma ou duvidosa relevância em nossa história, inclusive estrangeiros. Campeia, livremente, em salas de aula e muros de escolas e universidades. A mídia brasileira, com poucas exceções, sob o domínio do “politicamente correto”, ignora a maioria dos episódios relevantes de nossa história.  
Os descendentes de Tiradentes, incógnitos, jamais são lembrados. Apenas uma de suas tetranetas, a senhora Lúcia de Oliveira Menezes, hoje, se viva, com 72 anos, receberia do governo brasileiro, concedida pela Lei Federal nº 9.255, de 3 de janeiro de 1996, a inacreditável pensão de um salário mínimo.
Nesta data, recordamos e reverenciamos o sacrifício do Alferes Tiradentes que, em última análise, retrata os ideais de liberdade e soberania de nosso povo, gente simples, humilde e trabalhadora, que repudia a corrupção e a impunidade que hoje dominam o cenário nacional, bem como qualquer tentativa de condução do país por caminhos que não se coadunem com os princípios, atributos e valores que forjaram a nação brasileira.


“Libertas quae sera tamen”  (Liberdade ainda que tardia)

Vídeo da cela de Tiradentes pode ser visto em:



* o autor é professor, historiador, oficial da reserva do Exército, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, da Academia Brasileira de Defesa, do Instituto Histórico de Petrópolis, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, fundador e ex-presidente do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva do Exército - CNOR. O artigo não representa, necessariamente, o pensamento das entidades mencionadas.

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